Constrangimento
Se tem uma coisa que me deixa constrangido são os intelectuais católicos (minto, existem várias coisas que me deixam constrangido, mas estou a fim de falar dessa agora).
Faço isso por impulso protestante, nesse caso protestando contra meus próprios irmãos. Porque no Brasil encontramos tantos intelectuais católicos e pouquíssimos (para não dizer nenhum) intelectuais protestantes? Porque temos tantos admiradodes de Tomás e Erasmo e tão poucos de Lutero, Melanchton, Calvino ou Kierkegaard? (nem na igreja Luterana se costuma falar mais sobre a obra de Lutero) Porque tantos filhos de Olavo de Carvalho e tão poucos de C.S. Lewis?
Está certo que o protestantismo prega ser a espiritualidade e caráter da pessoa mais importante que o seu intelecto, mas Spurgeon já disse a três séculos passados: "Daquilo que se possa ter alguma utilidade ao nosso propósito, nada é fútil. Só pela perda de um cravo, o cavalo perdeu a ferradura, e deixou de servir para a batalha. Aquela ferradura era apenas uma banal tira de ferro a ferir o solo. Entretando, ainda que o lombo esteja cingido de raios e trovões, de nada vale se ele perdeu a ferradura. Uma pessoa pode ficar irremediavelmente arruinada por inutilidade espiritual, não porque falhe no caráter, ou no espírito, mas porque fraqueja no intelecto ou na oratória." (lições aos meus alunos, pg. 31).
Não existe desculpa, senão a preguiça, que leve uma pessoa a não se aprofundar o mais que pode acerca, pelo menos, dos assuntos que vive opinando sobre. E o que vemos são multidões de crentes opinando diariamente sobre assuntos que não dominam, nem entendem direito.
Se têm consciência que não se domina regularmente bem algum assunto, então se pode opinar, mas com triplicada humildade, pedindo licença e sempre disposto a aprender, mesmo que seja de um herege ou de um ímpio, esses com certeza não podem nos ensinar muito acerca de teologia, mas podem, sim, nos ensinar acerca de todas as outras coisas que queremos opinar.
Depois de ter escutado tudo, entendido o máximo, seguir o conselho de Paulo e "escutar todas as coisas, e reter o que é bom".
Lewis escreveu certa vez que tinha ficado mais inteligente depois da conversão, decerto se deve a um fato expressado na frase que abre esse blog: "Eu creio no Cristianismo como eu creio que o sol nasceu, não apenas porque eu vejo ele, mas porque através dele eu vejo todas as outras coisas."
O Cristianismo oferece ferramentas que aguçam a percepção do mundo em que vivemos, nem a ciência, nem qualquer outra religião (mesmo aquelas montadas sobre a premissa de "explicar" o mundo), nem qualquer outra fórmula inventada pelo homem se aprofunda e lança luzes num escopo tão amplo como o Cristianismo quando bem entendido e aprofundado. Falarei mais sobre esse assunto futuramente, basta por enquanto, como exemplo, notarmos que na medida que o homem descobre o seu Criador, acaba por descobrir a si mesmo, numa paradoxal troca de valores quando comparados, por exemplo, as religiões orientais, que enfatizam que o homem deve encontrar a sua origem olhando para si mesmo.
Mas mesmo assim continuamos teimando em não entrar nesse maravilhoso mundo que encontramos na medida que nos aprofundemos na espiritualidade, preferimos ficar ao raso, longe dos mistérios, longe de uma intimidade ao mesmo tempo querida, mas perturbadora.
O resultado são milhões de crentes espalhados que com uma face propagam que estão plenos de alegria com a decisão que tomaram de "seguir a Jesus", mas com outra se sentem miseráveis por não seguirem a Jesus até onde Ele os quer levar.
A teologia Católica Romana não me agrada, não escolhi o protestantismo a toa, pois tal teologia é resultado de milênios de tradição humana se interferindo, dando opinião, e até mesmo aconselhando a Revelação Divina. Criam mistérios onde não existe mistério algum: Como o Papa pode ser infalível como as escrituras? Mistério. Como os mesmos papas infalíveis se contradizem através da história? Outro mistério. Porque os padres não podem casar se até São Pedro tinha uma esposa? Outro grande mistério.
A teologia protestante, a dos reformadores, é tão mais atraente para o intelecto, tão mais sedutora pela sua simplicidade, força e coerência. Mas mesmo assim, e isso me confunde, temos mais intelectuais lá do que aqui.
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