domingo, 8 de fevereiro de 2004

TAPERA
Jayme Caetano Braum

Vulto heróico das coxilhas,
Testemunha do passado,
Velho tição apagado
Sem vestígios de clarão,
Rancho amigo que a desgraça
Transformou numa carcassa
Perdida na solidão!

Foste um dia, o pouso certo
Dum monarca destes pagos
E a china, cheia de afagos
Mais lindaça da querência,
Hoje, ruína abandonada
Evocas a retirada
De uma raça em decadência!

Não há cuera por mais chucro
Que vendo tanta tristeza
Amortalhando a beleza
Que Deus no pago criou,
Não sinta uma dor cruciante
E algum recuerdo distante
De um tempo que já passou...

E a não ser algum fantasma
Desses que rondam no pago,
Somente algum índio vago
Te procura como abrigo,
A maldição te acompanha
E nesta vasta campanha
Já não te resta um amigo!

E quando a noite, as estrelas
Vão fogoneando indecisas
Tapera, tu simbolizas,
Por estas imensidades
Um coração sem carinho
Que bate triste e sozinho
Vivendo só das saudades!

E assim como tu, tapera
Que um dia foste morada
Hoje, triste abandonada,
Como espectro da querência,
São as ilusões perdidas
Outras taperas caídas
Na campanha da existência!!

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