Divina Comédia ?
O meu mais novo leitor, o Leandro, levantou uma questão relevante sobre a Divina Comédia, do Dante Alighieri, o porque de classificá-la na categoria "comédia".
A melhor explicação que já vi foi a de um senhor chamado Otto Maria Carpeaux, que assina o estudo introdutivo de uma versão da obra editada pela Edições Ediouro, uma excelente versão por sinal. Uma das características dessa versão é que mantêm a forma de poema da versão original e ainda traz o original italiano na mesma obra, intercalando páginas com a tradução brasileira.
Aqui vai a nota do sr. Carpeaux
É um poema sui generis que não se parece com nenhum outro. Será epopéia? Ou poema lírico? Ou poema dramático? A Divina Comédia parece epopéia, pelo grande tamanho, pela foma narrativa. Mas não é uma epopéia, porque não canta um enredo coerente - compõe-se de centenas de episódios - e porque não é uma narração objetiva: no centro do poema não se encontra um personagem principal, mas o próprio poeta, que fala, durante a obra toda, em seu próprio nome, manifestando seus pensamentos, seus sentimentos, seus sofrimentos, suas denúncias veementes e sua confissão humilde. Esse subjetivismo é próprio da poesia lírica. Mas será A Divina Comédia um poema lírico? O próprio Dante não estaria de acordo. Pode-se admirar um poema lírico sem aceitar a verdade do pensamento manifestado nele. Mas Dente exigiu que se acreditasse na veracidade teológica, filosófica, ética e política de seu pensamento. Em sua obra pretendia representar o grande drama cósmico. Seria - embora não destinado para o palco - um poema dramático; e porque o fim, no Paraíso não era trágico, deu-lhe ou permitiu que outros lhe conferissem o nome de Comédia.
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