sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Vida de Gado

No seminário, nas aulas de filosofia, estou revendo algumas figurinhas importantes na história dessa matéria, como Kant, Nieztche, Sartre, essa gurizada toda. Não se pode acompanhar a história e as idéias dessa gente sem notar o movimento que aconteceu da Modernidade para a Pós-modernidade. Como o homem deixou de ser "moderno", ou seja, racional e analítico, prezando o motivo e o porquê das coisas, e passou a ser "pós-moderno", uma criatura que não preza nada além da satisfação dos sentidos, onde o iludir-se e enganar-se é totalmente aceitável, desde que se "sinta bem" assim. Onde as pessoas não discutem mais por "amor da verdade", mas apenas para impor o seu ponto de vista sobre o outro e assim acariciar o próprio ego.

Não me surpreendi em ver tantos nomes e tantas mentes geniais divergirem tanto entre si, afinal, uma vez que o universo é muito maior do que nós mesmos é claro que nem a maior das mentes terrestres pode entender a vida por completo. A ciência, a filosofia, as artes são, ao mesmo tempo, uma declaração de humildade e nossa maior pretensão. Aceitamos que nada sabemos, mas pretendemos explicar o inexplicável. Bem não é sobre isso que eu estava falando.

Não me espanta, portanto, a procissão de sábios trocando lugar um com os outros, uma tendência de abordagem: razão ou sentidos, se intercalando na preferência dos discursos. Tudo isso é natural, tudo isso está de pleno acordo com a condição humana e eu não me sinto inferiorizado como criatura pensante por causa da grandeza das coisas que nos cercam, na verdade, me sinto até feliz que assim seja. A insondabilidade das coisas, a profundeza da vida, tanto me consola como me desafia.
O que me deixa enojado com a criatura que sou, o que me preocupa e me apavora, é ver como que as massas, o povo, o proletariado, a sociedade, ou quaisquer que seja o nome que dão para a criatura humana quando se aglutina. O homem quando tem sua individualidade diluída pelo volume de seus semelhantes. O quanto ele carece de introspecção, o quanto o "pensamento de massa" influência e escraviza os homens. Meia dúzia de pessoas, inteligentes sem dúvida, pertencentes a "intelectualidade" da raça, tecem algumas frases em livros, formam alguns conceitos em sua alma, decidem coisas e chegam a definições de como a vida é entendida por eles, e poucas décadas depois, toda a sociedade segue nessa direção sem ao menos perceber ou se importar, vivem das conclusões dos outros, como se elas sempre fossem suas, como se os conceitos que inconscientemente os norteiam, sempre norteassem a todos, em todos os tempos e que assim sempre será.
Até aonde as pessoas seguirão, até que ponto alcançarão, antes de perceberem que o caminho que elas pensavam ter tomado, na verdade foi indicado por outro?

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