quarta-feira, 24 de maio de 2006

Vendo a vida

Tenho um certo ceticismo contra esses tipos de escritores ou autores (quase sempre latino-americanos) que se utilizam, ou como instrumento de auto promoção ou para massagear o ego, a idéia de que suas obras são superiores porque "descrevem a realidade". Geralmente essas obras tratam de coisas feias, posta de uma maneira feia, tal é a maneira que essas pessoas "enxergam" a vida.
A cena do garoto dando um tiro na mão de outro no filme "Cidade de Deus" é um exemplo. Não acho errado existirem cenas assim na arte, mas quando é disso que mais se recorda, quando a obra é apenas sobre aquilo, e vemos o autor se jactando sobre os seus pares dizendo que por causa disso sua obra é mais "real" do que as demais, bem, acredito que ai o autor perdeu o ponto.
Existe poesia na vida, a encontramos em cada recanto, se anunciando em cada fresta, as vezes tímida, as vezes extravagante, por vezes sussurra, as vezes grita, mas está lá, presente, inquietante. Vemos ao nosso redor poesia em todas as suas formas: nostálgica, platônica, irônica, infantil, meiga, romântica, trágica, objetiva, subjetiva, de maneira clara ou obscuramente.
A vemos na alegria do noivo, no riso fácil dos jovens, no semblante do velho, na sombra das árvores, na idade dos montes, na metamofórmica expressão da mãe no parto, transmudada de dor para alívio, de alívio para alegria.
Se o autor não consegue enxergar isso, então não está de forma nenhuma percebendo a realidade, a não ser de forma deficiente. Existe beleza na vida, ela está presente, mais abundantemente ainda do que a tristeza.

Nenhum comentário: