sábado, 8 de maio de 2004

Uma historia como as demais II

Dona Joana tambem tinha a sua história. Filha de produtores rurais no interior do RS, casara muito cedo com Américo, um castelhano (uruguaio) de olhos tristes, e descendente de hispânicos. Ela mesmo era uma mistura de raças: pai de cerne germânica e mãe índia dos pagos. Os índios gaúchos eram diferentes das tribos da Amazônia, viviam ao campo aberto. Itinerantes, prezavam a liberdade como sumo bem e muito cedo se tornaram exímios cavalheiros. Foi essa última raça que mais transparecia no semblante moreno de Dona Joana.
Perdera o marido muito cedo, Américo morreu de insolação quando cavalgava de volta para casa deixando dona Joana com 8 filhos para criar. Verdadeira gaúcha, ela não tinha tempo para brincadeiras, nem para chorar suas mágoas. Vendeu as terras que possuía, comprou uma casa num bairro afastado da cidade mudou-se pensando em dar um futuro melhor aos seus filhos.
Entre os mais novos de sua prole estavam Dorinaldo e Maria.
O moço servia no exército, a moça, com apenas 16 anos, era uma morena-clara muito linda, bem prendada e que já sonhava com casamento.
Um dia o rádio da família estragou, Dorinaldo se lembrou que tinha um soldado que servia no mesmo pelotão, que era muito inteligente e sabia consertar essas coisas.
No dia seguinte Dorinaldo trouxe o seu colega, um sujeito singular: seus cabelos eram escuros e lisos, tronco largo, olhos... tinha algo estranho nos olhos, eram pequenos, diferentes de tudo o que aquela família já vira, dona Joana pensava que era índio guaraní, que nem sua mãe. O filho logo esclarece com ar de entendido: --Ele é japonês, seus pais vieram do outro lado do mundo de navio. Não impressionou muito. O mundo para aquela gente simples era o Rio Grande do Sul, o outro lado do mundo era qualquer coisa fora do Rio Grande do Sul, não tinha muita diferença, para eles, entre alguém vindo do Japão ou de São Paulo.
Mas o soldado, Mário ele se chamava, causara grande impressão em Maria, olhos escuros e profundos, a economia no falar e agir própria de quem é muito mais do que parece ser, as boas maneiras, o respeito, a educação.
Não foi muito difícil aceitar o convite de namoro, ela tinha apenas 16 anos, com 17 já estava casando, uma boa idade para casar naquela sociedade.

E assim, se conheceram meu pai e minha mãe, os melhores do mundo.

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