terça-feira, 8 de junho de 2004

Tirado do site de Diego Casagrande

O DESCANSO DO CAUBÓI
por Paulo Leite, de Washington, DC
em 06/06/2004

O dia 5 de junho vai ficar marcado nos Estados Unidos como um dia de muita tristeza. Neste dia, o mundo perdeu, aos 93 anos de idade, Ronald Reagan, um dos presidentes americanos que mais influenciaram a trajetória não apenas de seu país como do mundo inteiro.

Agora que entrou definitivamente para a História, Reagan vai continuar, sem sombra de dúvida, a ser uma figura controversa e discutida. Tenho certeza de que ainda vão ser necessários muitos anos, muita água embaixo da ponte para que sua carreira política possa ser julgada com a isenção que merece, livre de paixões doutrinárias ou partidárias.

Menino pobre, filho de pai alcoólatra, Ronald Wilson Reagan - de apelido "Dutch" - não parecia destinado a grandes conquistas na vida. Mas, dono de um otimismo que muitos consideravam até exagerado, e amparado na fé inabalável de sua mãe, o menino de Illinois acabou virando artista de cinema (de razoável sucesso, embora nunca tivesse chegado ao primeiro time de "superstars"), líder sindical, apresentador de televisão e orador motivacional para a General Electric, e finalmente governador da Califórnia e presidente da maior potência do planeta.

Começou a vida como Democrata, admirador de Franklin D. Roosevelt, mas acabou transferindo-se para o partido Republicano, quando percebeu que suas convicções eram cada vez mais conservadoras, enquanto os Democratas se moviam cada vez mais à esquerda. "Não deixei o partido", dizia Reagan, "o partido é que me deixou".

Dedicado estudioso do comunismo e suas falhas morais, Reagan dedicou sua carreira política a combater a ideologia marxista. Quando chegou à Presidência, mudou imediatamente a política externa dos Estados Unidos. A política de contemporização e apaziguamento da União Soviética adotada por Jimmy Carter e seus antecessores foi abandonada. Em seu lugar, Reagan adotou uma política de fortalecimento frente ao inimigo, a quem chamou certa feita de "império do mal".

Ridicularizado por seus adversários como um caubói simplório que queria destruir o mundo num grande cogumelo nuclear, Reagan acabou rindo por último. Impossibilitada de competir com o reaparelhamento da estrutura militar americana, e apavorada com a possibilidade de que o sistema de defesa estratégica apelidado de "guerra nas estrelas" pudesse funcionar de verdade, tornando fútil sua política de chantagem nuclear, a União Soviética acabou se dissolvendo, pouco depois de Reagan passar o governo para seu vice-presidente George Bush.

No plano interno, Reagan foi responsável pelo reerguimento dos Estados Unidos depois do desastre que foi a presidência de Jimmy Carter. Sua política econômica, baseada na redução de impostos, na retirada de regulamentos e empecilhos ao funcionamento das empresas privadas e na crença da capacidade dos empreendedores e trabalhos americanos, acabou com a inflação, reduziu o desemprego, trouxe de volta a confiança da população e iniciou um ciclo de crescimento que só foi terminar ao final do governo de Bill Clinton.

Não é fácil para mim escrever sobre a morte de Reagan. Quem acompanha meus escritos sabe de minha admiração pelo ex-presidente, um dos maiores responsáveis por minha mudança para os Estados Unidos. Confesso que escrevo estas linhas sob forte emoção. Na parede ao lado de minha mesa, Reagan - o eterno otimista - sorri no calendário. Eu, sem saber o que escrever, só posso desejar ao velho caubói que tenha o descanso que merece. Você já faz falta, presidente, muita falta.

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