terça-feira, 14 de setembro de 2004

Teologias

Na apresentação de monografia de uma formanda em teologia foi apresentado novamente o tema da moda no meio acadêmico: o "social", no caso, uma teologia social, mais especificamente uma defesa da Teologia do Evangelho Integral, que eu particularmente aprecio mais do que a tal da Teologia da Libertação.

O trabalho estava bem feito, mas uma coisa me irritou: A adoção do discurso marxista como única solução para combater a pobreza, o que, além de não fazer parte da Teologia do Evangelho Integral, ainda por cima é uma falácia muito grande.

Vou ilustrar como com um exemplo que surgiu logo depois da apresentação: Como sempre eu fui o único a contestar esse tipo de visão, coloquei, entre outras coisas, que na tentativa de implantar o socialismo 120 milhões de vidas foram ceifadas no maior genocídio da história da humanidade (o nazismo perto disso foi café pequeno). Disse que isso deveria ser muito bem pensado antes de ser abraçado. O namorado da moça que apresentava a monografia me procurou depois para me largar com um sorriso estranho no rosto: Quantas pessoas você disse que o comunismo matou mesmo? ¿120 milhões, respondi. Ah! e quantas pessoas o capitalismo mata na África então? Nenhuma, respondi sem pestanejar.

Ora, não venha insultar a minha pouca, mas bem aproveitada, inteligência com uma comparação imbecil dessas.
Primeiro porque esse tipo de resposta é das mais irresponsáveis que pode ter, reduz as pessoas a números, ela sugere: "Ok o socialismo matou cento e vinte milhões, mas o capitalismo (supostamente) mata mais, então o socialismo é melhor." Como se um assassino em série fosse melhor do que o outro apenas porque matou menos. Se eu como cristão, assim como são o casal de namorados da Teologia do Evangelho Integral, se vou fazer uma proposta de mudança social, ela não pode de forma nenhuma ignorar um custo tão alto como foi o custo de vidas na tentativa de implantação do comunismo.

Partidários da cartilha de Marx se defendem dizendo que o que ocorreu por todo o mundo nos últimos 50 anos não foi o comunismo real, e com essa desculpa se acham livres para ignorar completamente 50 anos de tentativas fracassadas de implantar a utopia, e foi um fracasso de um alto custo. Impedem com uma desculpa que a história lhes preste uma importante lição.

Um outro motivo pelo qual abomino esse tipo de resposta é a grande mentira disfarçada nela: de que o capitalismo mata mais do que o comunismo. Basta comparar os índices de mortalidade infantil e de expectativa de vida da humanidade antes do advento da economia de mercado. A média de vida na Europa da idade média era de 45 anos, pulou para 75. Qualquer estudioso sério irá admitir que a Economia de Mercado (capitalismo) foi o grande enriquecedor da raça humana, na verdade salvando vidas em vez de tirá-las. Até países que tradicionalmente não são adeptos da economia de mercado, como os países da América Latina e África, que tem uma sociedade mais paternalista e infantil, centrada em governos populistas e líderes tribais e não em conquistas do individuais, até esses, que pouco contribuíram para a riqueza econômica do mundo, acabam ganhando com o processo econômico dos países mais maduros.
É exatamente esse o "Toque de Midas" do capitalismo, ele gera tanta riqueza para o empreendor, que essa riqueza acaba gerando um excedente que acaba favorecendo diversas outras pessoas. Quantas pessoas um dono de fábrica emprega? Quantos serviços uma pessoa que ganha 1.000 reais gera? Não muitos, talvez uma faxineira uma vez por mês. Agora essa mesma pessoa ganhando 7.000 reais quantos serviços geraria? Bem mais, faxineira, jardineiro, mecânico. Fora os bens de consumo, agora adquiridos com mais abundância. Uma pessoa enriqueceu, e várias que não foram tão longe acabam prosperando com isso. Riqueza gera riqueza.

Então o maior problema da pobreza do Brasil não é o capitalismo, mas a falta dele. Com nosso estado onipresente e altos impostos somos um terreno árido para o empreendedor, e assim geramos pouca riqueza. E derivado disto temos índices de desemprego alarmantes, mortalidade e fome. O problema do Brasil é um capitalismo mal aplicado pelo governo, pouco entendido pela população e ignorado pelos intelectuais.

Até mesmo os países ditos comunistas atuais precisam dos países capitalistas para sobreviver. Cuba vive do dinheiro enviado pelos cubanos que vivem em Miami, a Coréia do Norte sobrevive com o capital enviado pelos Norte Coreanos que vivem no Japão.

Só pode ser caracterizado como cegueira qualquer sistema social que vise tirar pessoas da miséria e não levar em conta o grande potencial enriquecedor do capitalismo. O comunismo não gera riqueza, ele usa a força da coerção para distribui-la, e uma vez distribuída dessa forma a riqueza não se regenera. Morta está a galinha dos ovos de ouro.

Como cristãos precisamos sim, levar conceitos de fraternidade e igualdade para dentro do Capitalismo, não precisamos abandoná-lo ou esquecê-lo, voltaríamos para idade média no mesmo instante que isso acontecesse, mas sim saná-lo.

No final da aula meu amigo comunista me disse que não existe literatura que defina o capitalismo, me falou de uma forma como se isso por si só tornasse o comunismo de alguma forma superior. Posso estar enganado quanto as intenções do meu amigo, mas foi assim que me pareceu na hora. É verdade, não existe um documento que criasse o capitalismo, seus defensores como Thomas Jefferson, ou Ludwig von Mises ou ainda Hayek não inventaram o Capitalismo, apenas descreveram o fenômeno da Economia de Mercado.

Mas isso torna o Capitalismo de alguma forma inferior ao Comunismo? Penso o contrário, exatamente porque o capitalismo não foi "inventado" por ninguém. Não foi algum sonhador, muito bem intencionado mas equivocado sentando num escritório aquecido e confortável confabulando como mudar o mundo que o criou, ele nem mesmo precisou ser imposto como foi o comunismo, pela forca das baionetas coergindo a população para que o aceite. O Capitalismo tem uma vantagem que o comunismo não têm, ele nasceu naturalmente na medida que o homem foi ampliando seu comércio com outras pessoas, e criando soluções para estabelecer esse comércio numa base justa para ambos.

O Capitalismo nasceu da prática, o Comunismo nunca viu a prática, se limitando a teoria. O capitalismo vai continuar se aprimorando, com a ajuda da igreja crescendo e levando riqueza para os menos favorecidos, cabe a igreja essa tarefa, de incentivar o homem livre a livremente, como Jesus fez, dispor das suas riquezas em favor dos menos favorecidos. Enquanto isso o comunismo vai continuar habitando as mentes sonhadoras de nossos jovens, como o pais das fadas, até de lá se extinguir.

Nenhum comentário: