sexta-feira, 11 de maio de 2007

Leituras

Aqui, um presente para os hermanos que vivem saudosos de sua querência, uma descrição da mesma nas belas palavras de José de Alencar, tiradas do livro "O Gaúcho" que ultimamente tem me encantado.

Como são melancólicas e solenes, ao pino do sol, as vastas campinas que cingem as margens do Uruguai e seus afluentes!
A savana se desfralda a perder de vista, ondulando pelas sangas e coxilhas que figuram as flutuações das vagas nesse verde oceano.
Mais profunda parece aqui a solidão, e mais pavorosa, do que na imensidade dos mares.

Um ruído surdo reboou pelas grotas e algares que alcantilavam o cerro abruto. Parecia que a terra arquejava com o estertor de um pesadelo.
Ao mesmo tempo uma exalação ardente como o vapor de uma cratera derramou-se pela solidão. As feras uivavam longe na profundeza das selvas; e as aves espavoridas passaram soltando pios lúgubres. Os dois cavalos, com pêlo erriçado, resfolgavam aquele bafo ígneo, semelhante ao fumo de uma batalha; eles o conheciam: era o sopro da pátria selvagem; era o fôlego do pampa.
De repente a lua sepultou-se. Céu e terra submergiram-se num oceano de trevas. O aluvião das procelas se arremessara no horizonte e inundara a imensidade do espaço. Houve então um momento de silêncio pavoroso; era a angústia da natureza asfixiada pela tormenta.

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