sexta-feira, 12 de março de 2004

São sábias as palavras da Voz do Deserto

Apenas uma nota sobre o aborto
Considero-me preparado para viver num país que despenalize o aborto. Embora o considere criminoso.
Não creio em teocracias para a actualidade. Mas no seu tempo, Moisés concedeu o divórcio pela dureza dos corações dos homens (Mc 10:5). Embora a questão ética e filosófica da interrupção voluntária da gravidez (o termo higiénico) ultrapasse a desavença matrimonial, entendo que a vida em sociedade deva respeitar a atitude mosaica. O pecado leva a que não nos possamos entregar à ilusão de uma alva coexistência colectiva.
Mais facilmente aceito que as mulheres sendo criminosas devam ser toleradas, do que o aborto sendo um mal seja relativizado. Não há aqui espaço para a inocência das abortadeiras. Que a sociedade modere os seus vícios, aceito. Que os transforme em virtudes, desprezo. Os homens condescendentes são mais sábios do que os optmistas.

e ainda mais...

As criancinhas
Desconheço se outras civilizações já anteriormente praticaram esta repugnância maquilhada perante o nascimento. Delicioso paradoxo o de uma sociedade que se arrepia pelo respeito dos Direitos Humanos (essa reencarnação pálida do Decálogo para mentes secularizadas) mas se atrapalha com o aparecimento de um novo ser.
São tristes os ocidentais que se julgam civilizados por não mutilar a genitália das suas meninas mas que planeiam os seus filhos entre o microondas e as férias no Brasil. Por aqui o prémio das grávidas, para além da cumplicidade no fatalismo, são os lugares de estacionamento reservados nos centros comerciais.
Não precisamos de ilustrações escabrosas sobre canibais devassos. Nós já comemos as nossas próprias criancinhas.

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