Do Ateísmo e da Arte de Ser Cínico
Não são necessárias muitas prerrogativas para ser ateu, na verdade, são necessárias ainda menos prerrogativas do que para ser cristão.
Apesar do Cristianismo ser a única religião que pode ser abraçada por praticamente qualquer tipo de pessoa, alguns requerimentos básicos são imprescindíveis para a sua prática, coisas que não são exigidas em absoluto para prática do Ateísmo.
O primeiro caso é o da fé. O cristão não precisa ter mais fé do que qualquer outro tipo de crença ou crente, inclusive que o ateu. Afinal, o que requer um "pulo de fé" mais longo e mais incerto? Acreditar que um mundo e um universo ordenado e inteligente tenha sido criado por um ser inteligente, ou acreditar que um mundo assim tenha saído do nada? A primeira opção é de longe a mais lógica das duas, e portanto requer menos fé (que é em súmula, acreditar em algo que vá além do seu próprio entendimento).
Pois bem, se o cristão não precisa ter mais fé do que qualquer outro, ele precisa, entretanto admitir que tem fé, o que o ateísmo, horrorizado, não admite possuir, apesar de fazer tanto uso dela quanto qualquer outro credo.
Então, em súmula, o cristão precisa ser sincero, o ateu não necessariamente.
Outra exigência da fé cristã é a fidelidade a uma idéia. O ateu não precisa ser fiel a uma idéia, na verdade ele só é fiel a uma falta de idéia, no caso, a falta da idéia de Deus. De resto, tudo vale. Já vi ateus esotéricos, observadores de ovnis, panteístas, espíritas, budistas, comunistas, etc... Ou seja, uma vez que negam a idéia de Deus, eles se sentem a vontade para colocar qualquer coisa para preencher o lapso de Deus na criação e na história. Ou seja, qualquer idéia vale, desde que explique, ainda que insatisfatoriamente, um mundo sem Deus.
O cristão tem que ser, dentro do limite humano, coerente, nada disso é exigido do ateu.
Mais uma demanda da fé cristã é a observância de seus credos.
O cristão, uma vez que entende que a fé cristã é verdadeira, se acha na obrigação de se adequar na verdade da sua fé, escutar suas autoridades espiritualmente constituídas, ler, entender e praticar a Bíblia, escutar de boa fé, a sabedoria acumulada, nos erros e nos acertos, da sua comunidade e na história da sua igreja.
Já o ateu não precisa nada disso, ele conscientemente pode dizer algo que o seu credo não professa como se o professasse, e ignorar o que seus mestres dizem ao mesmo tempo que dizem que os seguem.
Explico: Observe que os ateus tem demostrado, em quase todos os casos, absoluta segurança de ser a ciência o receptáculo de toda a verdade (no caso aqui, apenas as ciências exatas e as de comprovação laboratorial).
Eles emprestam, sem pudor e sem pedir licensa, a autoridade da ciência moderna para dar crédito as suas afirmações.
Mas, quando olhamos de perto, nem a ciência, e nem seus maiores intérpretes ou expoentes, acham que estão no direito de afirmar que Deus não existe. Einstein apesar de se dizer agnóstico, falava abertamente da possibilidade de Deus, assim como Hawkings, que afirma que Deus é uma hipótese viável. Nenhum desses dois, considerados como expoentes da ciência moderna, se acham no direito de ser categóricos ao afirmarem que Deus não existe. Da mesma forma a ciência não têm instrumentos para comprovar a não-existência de Deus, e nem é essa a sua função. A ciência limita-se a tentar entender o funcionamento do universo, o que passar disso, deixa de ser ciência, passa a ser outra coisa qualquer. Mas comumente vemos os ateus, esses cientistas de fim de semana, afirmarem categoricamente coisas que nem seus maiores e nem a ciência que tanto idolatram e glorificam, se acham na posição de afirmar. Incrível.
Na verdade apenas uma condição é necessária para ser ateu, apenas um requisito deve ser preenchido. Eles não precisam ser mais inteligentes do que a média da humanidade, como eles gostam de imaginar que são (usam uma lógica assombrosa para afirmar isso, pensam: somos 5% da população mundial, portanto, somos os 5% mais inteligentes da população mundial). O ateu não precisa ser mais instruído, mais criativo, mais "durões" ou mais bonitos que os demais. Na verdade quase todos são bem medíocres.
A única obrigação de todo ateu é ser cínico. Ele deve ver o mundo, a criação sua grandiosidade, complexidade e beleza e dizer: "não têm nada de mais nisso! Tudo obra do acaso!" Ele tem que ver uma pessoa normal e sincera, visivelmente transformada por uma experiência inexplicável, lhe dizer que teve um encontro com Deus e responder para ela: "Você está imaginando coisas, cheguei a conclusão que Deus não existe, portanto é impossível você ter um encontro com Ele". Ele precisa, muitas vezes, se postar diante de pessoas cristãs sem dúvida alguma mais inteligentes que ele, e mesmo assim seguir repetindo que a: "Idéia da existência de Deus, é uma invenção de mentes supersticiosas e limitadas". Conclui, portanto, que tais mentes lhe sejam inferiores e nem sequer pensam que existe uma grande inconsistência entre seu pensamento e a realidade que se põe a sua frente.
Não pensem que isso é pouca coisa. É necessário uma quantidade enorme de cinismo para querer que o universo inteiro, e Deus junto com ele, se encaixem na sua visão pessoal e limitada, de como a vida deve ser.
Ser ateu, é querer decidir no lugar de Deus, como a vida deveria funcionar.
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