terça-feira, 25 de abril de 2006

Foi um homem

Era um homem que gritava
gritava porque era homem,
porque sofria e via sofrer.

Seu grito era sua arma,
seu grito era a sua cruz
seu grito o fazia diferente,
"um homem melhor",
assim imaginava.

Então o homem amou o grito.

O tempo passou,
e o grito tomou vida própria
alimentado pelo homem,
por rumores de ameaças
e pelos ecos de outros gritos.

Hoje se foi o homem e só ficou o grito.
O grito já se alimenta de si mesmo
e só reconhece o seu direito de gritar.

Quanto ao homem que iniciou o grito
não o reconhecemos mais
perdeu seus contornos, sonhos e amores
tudo o que sobrou dele
foi um sussuro dentro do grito.

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