quinta-feira, 1 de março de 2007

Me Comparando ao Rio Grande

Cristianismo e Panteísmo, quem presta atenção sabe, são absolutamente incompatíveis.
Um diz que deus é tudo e tudo é deus; outro diz que Deus criou tudo, pode ser encontrado em tudo, mas transcende tudo, o que é bem diferente da primeira versão. É algo como descrever o pintor como sendo um quadro ou como aquele que pintou um quadro. Certamente podemos achar um pouco do pintor na sua obra, metaforicamente falando, mas o pintor está além dela, existe a parte dela e é, por ser ele mesmo obra de um artista melhor, maior do que ela.

Assim é o Deus do Cristianismo, Está fora da pintura. Insondável para nós que estamos nesse mundo pobre de dimensões se comparado ao lugar de onde o criador vive. Vivemos numa "terra de sombras, e o mundo real ainda está por vir", já dizia o Jack. Mas também é verdade que podemos encontrar traços da personalidade do artista aqui e ali, numa nuvem que passa ligeira, num sorriso inocente de criança na face de um adulto, numa situação impossivelmente engraçada. Também dispomos de uma "descrição" mais completa de Deus, pois o criador "se fez" dentro do mundo que criou, e essa é uma reivindicação exclusiva do Cristianismo. O artista se fez arte, na pessoa de Jesus Cristo.

Mas, puxa! Entendo o apelo panteístico e entendo perfeitamente onde ele nasce, pois trago forte ele dentro do meu peito, ele nasce da atração, do fascínio, do amor que sentimos pela criação. Amor que nasce, quem sabe, devido aos traços do Criador que por vezes se revelam nela.

Descobri a santidade do meu lado panteístico escutando essa música nativista quando vivia bem longe da minha terra e ainda lembro como os toques de violão que embalam essas letras tocavam bem forte e bem fundo nessa minha alma que estava orfã de seu chão.

Me comparando ao Rio Grande

Iedo Silva, Xará e Luiz Carlos

Sou grito do quero-quero
No alto de uma coxilha
Sou herança das batalhas
Da epopéia farroupilha
Sou rangido de carreta
Atravessando picadas
Sou o próprio carreteiro
Êra boi, êra boiada

Êra êra boi Brasino
Êra êra boi Pitanga
Boi Fumaça, Jaguaré
Olha a canga...

Sou velha cambona preta
Dependurada nos tentos
Sou o chapéu do domador
Tapeado de contra o vento
Sou rancho de pau-a-pique
À beira de uma estrada
Onde descansa o tropeiro
Pra seguir sua jornada

Êra êra boi Brasino
Êra êra boi Pitanga
Boi Fumaça, Jaguaré
Olha a canga...

Sou a cor verde do pampa
Nas manhãs de primavera
Sou cacimba de água pura
Nos fundos de uma tapera
Sou lua, sou céu, sou terra
Sou planta que alguém plantou
Sou a própria natureza
Que o patrão velho criou

Êra êra boi Brasino
Êra êra boi Pitanga
Boi Fumaça, Jaguaré
Olha a canga...

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